Intestino irritável e SIBO

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma doença crónica do foro gastrointestinal, caracterizada por distensão, dor abdominal e alterações do trânsito (obstipação e/ou diarreia). É uma importante causa de diminuição da qualidade de vida e, as abordagens terapêuticas disponíveis são, frequentemente, pouco eficazes.

Por SIBO (Small Intestinal Bacterial Overgrowth) entende-se o sobrecrescimento de bactérias no intestino delgado. O intestino delgado é a parte do nosso trato digestivo especializada na absorção de nutrientes e geralmente a concentração de bactérias é diminuída nesta área. Historicamente, este sobrecrescimento bacteriano estava associado a anomalias anatómicas (presença de fístulas, "alças cegas" pós cirúrgicas, etc.) e alterações da motilidade intestinal (como sucede na esclerodermia, por exemplo). Contudo, o desenvolvimento de testes respiratórios que detectam os produtos de fermentação bacteriana no intestino (hidrogénio e metano), veio possibilitar a detecção de SIBO numa proporção maior de pacientes.

Existe uma relação entre a SII e o SIBO?

Parece existir, de facto, uma associação entre a presença de SIBO e sintomas da SII. A magnitude desta associação varia consoante os diferentes estudos, que não utilizaram os mesmos substratos e critérios para diagnosticar o SIBO. Segundo uma meta-análise de 2010, a probabilidade de um paciente com SII ter um resultado positivo no teste respiratório de SIBO é cerca de 4 vezes superior à de um indivíduo saudável.

Como pode este excesso de bactérias contribuir para os sintomas do intestino irritável?

O sobrecrescimento de bactérias no intestino delgado conduz ao aumento da fermentação intestinal. O propósito da digestão é a extracção dos nutrientes de que necessitamos, mas se esta não for completa, o material não totalmente digerido torna-se alimento para a flora intestinal. Através de um processo de fermentação, as bactérias (e potencialmente fungos) digerem hidratos de carbono, libertando gases como o hidrogénio e o metano. Esta produção de gás é responsável por sintomas como a distensão abdominal, flatulência e alterações do trânsito intestinal.

O SIBO pode ser tratado?

Sim. O tratamento visa a diminuição da população de bactérias que se encontram em excesso e assenta nos seguintes princípios:

1 - Diminuição da quantidade de "alimento" disponível para as bactérias em excesso: a dieta baixa em FODMAPs (acrónimo, em inglês, para Oligosacarídeos, Dissacarídeos, Monosacarídeos e Polióis Fermentáveis) é uma opção muito eficaz no tratamento de SIBO e alívio de sintomas da SII. Esta é uma dieta que restringe hidratos de carbono de difícil digestão, diminuindo assim a fermentação intestinal.

2 - Uso de antibióticos: produtos farmacêuticos como a rifaximina (em uso isolado ou combinado com neomicina ou metronidazol) ou preparados botânicos com actividade bactericida.

Em paralelo, quaisquer factores que predisponham à proliferação de bactérias no intestino delgado, como por exemplo a hipocloridria gástrica ou a dismotilidade intestinal, devem ser corrigidos, de forma a prevenir a recidiva de SIBO.

A SII é uma entidade complexa e multifactorial. No entanto, a proliferação excessiva de bactérias no intestino delgado parece ser um importante factor na génese dos sintomas desta síndrome e, o seu tratamento pode resultar em melhorias significativas. Assim, esta hipótese deve ser considerada nos pacientes com SII, cujos sintomas são debilitantes e pouco compreendidos.

Referências:

Triantafyllou K, Chang C, Pimentel M. Methanogens, methane and gastrointestinal motility. Journal of Neurogastroenterology and Motility. 2014;20(1):31-40.

Marsh A, Eslick EM, Eslick GD. Does a diet low in FODMAPs reduce symptoms associated with functional gastrointestinal disorders? A comprehensive systematic review and meta-analysis. European Journal of Nutrition. 2016;55(3):897-906.

Shah ED, Basseri RJ, Chong K, Pimentel M. Abnormal breath testing in IBS: A meta-analysis. Digestive Diseases and Sciences. 2010;55(9):2441-2449.

::: As informações contidas nestas páginas são resultado de pesquisas bibliográficas desenvolvidos pelo autor. Contudo, não deverão ser usadas como diagnóstico, pois cada caso terá a sua especificidade. Consulte sempre um profissional de saúde. ::: www.facebook.com/alquimiadoeu.eu  :  miguel.laundes@gmail.com  :  © Miguel Laundes, 2022
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