Probióticos e Alzheimer

As condições do seu intestino, considerado como o "segundo cérebro", já demostraram ser muito importantes para a sua saúde neurológica. Estudos demostraram que os probióticos (bactérias benéficas) podem ajudar a reduzir os marcadores patológicos do mal de Alzheimer, inclusive as placas e emaranhados de amilóides.

Um dos estudos mais impressionantes foi publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience em 2016. Sessenta pacientes idosos diagnosticados com Alzheimer receberam, por 12 semanas, um placebo ou um leite probiótico contendo Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium bifidum e Lactobacillus fermentum.

No início e no final do estudo, os participantes participaram de uma avaliação cognitiva padronizada e de um teste altamente sensível de proteínas C reativas, que é um dos maiores marcadores da inflamação. O neurologista Dr. David Perlmutter relatou:

"Os resultados do estudo foram impressionantes. O grupo placebo apresentou um aumento no PCR ultra sensível, o marcador da inflamação, por impressionantes 45%. Por outro lado, no grupo que recebeu o probiótico, o PCR ultra sensível, reduziu em 18%, indicando uma grande redução na inflamação.

Mas a descoberta mais interessante vem a seguir. Durante as 12 semanas, os pacientes do grupo placebo continuaram a apresentar declínio em suas funções mentais, como esperado, mas, o grupo que sofreu redução das inflamações pelos probióticos demostrou melhoras, com suas pontuações no MEEM (mini exame do estado mental) aumentando de 8,67 para 10,57, o que é uma grande melhora.

Reafirmando, o declínio mental do grupo não só parou de ocorrer, assim como os pacientes realmente apresentaram uma melhora em suas funções cerebrais! O importante neste caso é que a inflamação é determinada directamente pela saúde e diversidade da nossa microbiota intestinal e isso influi no funcionamento e na saúde do nosso cérebro e em nossa resistência às doenças."

O intestino e o cérebro estão interligados

Desde então, vários outros estudos foram publicados, mostrando que os probióticos podem ajudar a melhorar as funções cognitivas e a afastar a demência, inclusive o Alzheimer. Embora isso tudo pareça simples demais para ser verdade, faz muito sentido se considerarmos as fortes relações existentes entre o intestino e o cérebro. É como foi explicado pela Harvard Health:

"Pesquisas mostram que o intestino e o cérebro estão conectados. Uma parceria conhecida como eixo intestino-cérebro. Os dois estão interligados através da sinalização bioquímica entre o sistema nervoso do trato digestivo, chamado de sistema nervoso entérico e o sistema nervoso central, o qual inclui o cérebro.

A principal troca de informações entre o cérebro e o intestino ocorre através do nervo vago, o nervo mais longo do corpo. O intestino é conhecido como 'segundo cérebro' porque produz muitos dos mesmos neurotransmissores produzidos pelo cérebro. O que afecta o intestino, por vezes também afecta o cérebro, e vice versa.

Quando o cérebro pressente algum problema através da reacção de lutar ou fugir, envia um sinal para o intestino, o que explica porque eventos stressantes podem causar problemas digestivos, como a gastrite nervosa e dores de estômago. Por outro lado, crises de problemas gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável (SII), doença de Crohn, ou obstipação crónica, podem causar ansiedade ou depressão."

Os probióticos previnem disfunções induzidas pelos beta-amilóides

De acordo com um estudo de 2017 publicado na revista Scientific Reports, a Bifidobacterium breve A1 pode ser particularmente útil para o tratamento de Alzheimer. Utilizando camundongos com mal de Alzheimer, os pesquisadores concluiram que a administração oral diária de B.A1 reduziu a disfunção cognitiva normalmente induzida pelos beta-amilóides. De acordo com os autores:

"Também demostramos que componentes não viáveis da bactéria, ou seu metabólito acetato, amenizaram parcialmente o declínio cognitivo observado em camundongos com mal de Alzheimer.

A análise de perfil genético revelou que o consumo de B.A1 suprimiu as expressões hipocampais da inflamação e de genes imunorreactivos induzidas pelos beta-amilóides. Juntas, essas descobertas sugerem que a B.A1 possui potenciais terapêuticos para a prevenção dos problemas cognitivos do mal de Alzheimer."

Foi descoberto que um dos mecanismos por trás desses efeitos protectores é a supressão das alterações na expressão génica no hipocampo induzidas pelos beta-amilóides. Resumindo, a bactéria proporcionou um alívio sobre a toxicidade dos beta-amilóides.

O interessante é que, na verdade, a B.A1 não alterou a composição da microbiota intestinal dos animais em níveis significativos. No entanto, muitos dos benefícios parecem estar relacionados com um aumento considerável nos níveis sanguíneos de acetato, um subproduto da fermentação realizada pelas bactérias do intestino. Conforme explicado pelos autores:

"Uma das principais funções da microbiota intestinal é a fermentação de fibras alimentares no intestino e a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), principalmente acetato, propionato e butirato, os quais são os principais produtos do metabolismo dos carboidratos realizado pelas Bifidobactérias."

Ao analisar os níveis de AGCC do sangue dos animais, os camundongos tratados com B.A1 apresentaram níveis consideravelmente maiores de acetato, mas não de propionato ou butirato, se comparados aos animais de controle.

No entanto, outros AGCC derivados da microbiota também podem ser importantes. Um estudo de 2019 descobriu que ratos que receberam tanto probióticos quanto prebióticos obtiveram desempenhos melhores em testes de memória espacial e esta melhora foi atribuída ao aumento nos níveis de factor neurotrófico derivado do cérebro (BDNF).

O butirato, um AGCC produzido quando as bactérias intestinais fermentam as fibras, activa a secreção de BDNF. De acordo com os autores, a melhora também está correlacionada com a "redução nos níveis de citocinas inflamatórias e na melhoria dos resultados eletrofisiológicos no hipocampo".

Isso levou à conclusão de que "os resultados indicaram que a progressão dos problemas cognitivos é de facto influenciada por alterações na microbiota induzidas pelos probióticos e prebióticos".

Os probióticos possuem um potencial preventivo e terapêutico para o mal de Alzheimer

Um artigo de 2018, "Probiotics for Preventing Cognitive Impairment in Alzheimer's Disease", afirma que os probióticos podem inibir a progressão da neurodegeneração através da:

Regulagem do processo inflamatório

Neutralização do stress oxidativo

Regulação das funções do sistema nervoso central mediadas por metabólitos derivados de bactérias, como os ácidos graxos de cadeia curta

Melhoria da patogénese através de alterações na composição da microbiota intestinal

A regulação da inflamação e do stress oxidativo ocorrem principalmente pelos efeitos que a microbiota intestinal causa sobre o eixo intestino-cérebro, que, além do sistema nervoso central e do sistema nervoso entérico, também inclui o sistema nervoso autónomo, o sistema neuroendócrino e o sistema imunológico.

Estes, por sua vez, estão conectados a várias vias envolvendo a regulação de funções imunológicas e homeostase metabólica. Estas vias incluem o nervo vago e o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. De acordo com o artigo "Probiotics for Preventing Cognitive Impairment in Alzheimer's Disease":

"O crescente número de evidências sugere que as alterações na microbiota intestinal podem influenciar a progressão de doenças neurológicas e pode ser um grande factor no desenvolvimento do mal de Alzheimer.

Por exemplo, um estudo pré-clínico recente revelou uma mudança notável na microbiota intestinal de camundongos transgénicos APP, se comparados a camundongos selvagens saudáveis. Foi fortemente defendido que a constituição microbial distinta dos camundongos com mal de Alzheimer pode contribuir para a amiloidose!

Além disso, um estudo clínico caracterizando a composição da microbiota intestinal de indivíduos com mal de Alzheimer revelou uma redução da diversidade microbial e alterações na abundância bacteriana, se comparados aos grupos de controle. Essas mudanças incluem níveis reduzidos de Firmicutes e Bifidobacterium e níveis aumentados de Bacteroidetes."

Os pesquisadores especulam que as alterações na microbiota intestinal que permitem a colonização de patógenos que aumentam a permeabilidade intestinal podem perturbar o eixo intestino-cérebro, aumentando os riscos de Alzheimer. Como exemplo para esta teoria, citam uma pesquisa na qual foi descoberto que uma infecção de enterobactérias acelera a progressão do Alzheimer.

A activação imune e a inflamação sistêmica no mal de Alzheimer

Muitos estudos sugerem que a activação imune e o baixo grau de inflamação sistémica e intestinal são factores importantes para o desenvolvimento de Alzheimer, o que pode ajudar a explicar por que os probióticos parecem ser tão benéficos. Como foi observado em uma publicação de 2018:

"... vários marcadores de inflamações nas fezes e no soro do sangue em correlação com estirpes de bactérias intestinais foram analisadas em nosso estudo recente sobre a função da microbiota intestinal em pacientes com declínio cognitivo...

De um subgrupo de 23 pacientes... de 55 pacientes ambulatoriais consecutivos com sintomas de declínio cognitivo, foram investigadas, a taxa de bactérias intestinais e o sistema imunológico, bem como os marcadores biológicos da inflamação no soro e nas amostras de fezes.

Confirmando nossas descobertas anteriores... sinais de activação imune puderam ser detectados. Algo muito interessante, uma correcção muito próxima foi encontrada entre a proteína fecal S100A12 e a neopterina do soro, indicando um baixo grau coincidente de inflamação sistêmica e intestinal...

Não houve influências de gênero. Essas descobertas sustentam a participação da inflamação intestinal como um possível cofactor patogénico da deterioração cognitiva e demência. Em um estudo anterior, foi descrita a possível participação de proteínas pró-inflamatórias na patogénese do mal de Alzheimer.

As PCR em circulação, conhecidas por afectar negativamente a cognição, foram elevadas em nossa série sem apresentar sinais clínicos de infecção aguda, indicando uma inflamação de baixo grau neste grupo de pacientes. Encontramos bactérias pró-inflamatórias Clostridium, consideravelmente correlacionados com a anti-inflamatória Faecalibacterium prausnitzii.

Em um artigo recente, foram medidos a abundância fecal da taxa de bactérias fecais selecionadas, incluindo a F. prausnitzii e os níveis sanguíneos de citocinas pró- e anti-inflamatórias nos pacientes com problemas cognitivos e no grupo de controle.

Pacientes com amilóides positivos demostraram níveis mais altos de citocinas pró-inflamatórias, se comparados ao grupo de controle e aos pacientes com amilóides negativos. Neste estudo, houve a suspeita de uma possível relação causal entre a inflamação relacionada à microbiota intestinal e amiloidose!

Juntas, todas estas descobertas podem indicar que alterações na microbiota e no eixo intestino-cérebro estejam correlacionadas com a neuroinflamação durante o declínio cognitivo. Já que a neuroinflamação é um evento inicial na patogénese da demência, estes marcadores podem ser importantes durante o início deste processo devastador."

Os autores especulam que o aumento da activação imune e da inflamação identificado em pacientes com Alzheimer pode ser consequência de alterações na microbiota que tendem a ocorrer com o avanço da idade.

Disseram ainda, que "o papel dos probióticos na prevenção da demência parece promissor" e que mais estudos devem ser realizados para descobrir os mecanismos exactos pelos quais os probióticos protegem contra a neurodegeneração.

A prevenção e tratamento de Alzheimer além dos probióticos

Embora a optimização da microbiota intestinal seja um factor importante para a prevenção e tratamento do Alzheimer, ainda precisa fazer parte de uma estratégia mais compreensiva. O Dr. Dale Bredesen, director de pesquisas de doenças neurodegenerativas da Faculdade de Medicina da UCLA, discutiu alternativas de tratamento em seu livro, "O fim do Alzheimer: O primeiro programa para prevenir e reverter o declínio cognitivo."

Dale identificou dúzias de variáveis que podem influenciar o Alzheimer, e desenvolveu um programa de tratamento baseado em suas descobertas, chamado ReCODE.

Em 2014, Dale publicou um artigo detalhando como a prática de 36 parâmetros de costumes saudáveis reverteram o Alzheimer em 9 de 10 pacientes. Estes costumes incluem exercícios, dieta cetogénica, optimização da vitamina D e outras hormonas, aumento da quantidade de sono, meditação, desintoxicação e eliminação do glúten e alimentos processados. É possível fazer o download do artigo completo de Dale, que descreve seu programa com detalhes.

Também é possível encontrar orientações úteis em meu outro artigo, "Foram identificados os maiores riscos ambientais para a demência". Enquanto a prevalência do mal de Alzheimer continua a aumentar, é importante entender que a doença é causada principalmente por factores preveníveis relacionados aos costumes e que tratamentos convencionais utilizando medicamentos não são eficientes e talvez sejam até prejudiciais.

Como observado em uma artigo de dezembro de 2018 escrito por David Perlmutter, foi demonstrado que a maior classe de medicamentos prescritos para Alzheimer, chamados de inibidores da colinesterase, que decompõem a acetilcolina, na verdade aceleram o declínio cognitivo! Obviamente, isso é a última coisa que queremos, o que significa que realizar alterações em nossos costumes é muito mais importante e quanto mais cedo as fizermos, melhor.

Quanto à como nutrir a microbiota intestinal, a melhor alternativa é fazer os próprios vegetais fermentados, o que fornecerá uma grande quantidade de bactérias beneficiais, por apenas uma fracção do preço de um suplemento.

Fonte: Dr. Mercola

::: As informações contidas nestas páginas são resultado de pesquisas bibliográficas desenvolvidos pelo autor. Contudo, não deverão ser usadas como diagnóstico, pois cada caso terá a sua especificidade. Consulte sempre um profissional de saúde. ::: www.facebook.com/alquimiadoeu.eu  :  miguel.laundes@gmail.com  :  © Miguel Laundes, 2022
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